sexta-feira, 7 de junho de 2019

Duas obras muito especiais de Will Eisner


Já ouviu falar de Will Eisner? Foi um autor norte-americano de banda desenhada (quadrinhos, no Brasil), ou, como ele dizia, arte sequencial. Foi o pai das novelas gráficas e o criador de um estilo único.
É mais provável que já tenha ouvido falar no Spirit, a personagem criada por Eisner em contra-corrente com a onda de super-heróis dotados de super-poderes que marcou o pós-guerra. Ao contrário do Super-Homem, do Homem-Aranha, do Homem Elástico, do Lanterna Verde, de tantas centenas de heróis da época, o Spirit não tinha super-poderes.


Já não havia super-poderes disponíveis, pelo que Eisner decidiu colocar o criminologista Denny Colt (que todos julgavam morto após uma missão fatal) a combater o crime apenas com a força do seu intelecto e dos seus punhos.


Já havia o Batman, é certo. E o Spirit partilha com ele um universo nocturno e sombrio. Mas  enquanto Bruce Wayne é um milionário, com grandes recursos para desenvolver armas sofisticadas, Denny Colt é uma pessoa comum. O cenário de Batman é gótico e sofisticado. O do Spirit é um ambiente prosaico de uma cidade suja, de lixo e de pecados diversos. Wayne mora numa mansão. Colt mora, incógnito, no cemitério de Central City.


A narrativa de Eisner é muito original, muito cinematográfica, com aspectos burlescos. É um filme negro de que quase se consegue ouvir a banda sonora. Os vilões são tremendamente feios. As mulheres são lindíssimas (e muitas vezes perigosíssimas). Em cada imagem sopra um vento de solidão e mistério. Há amizades sólidas, lealdade, heroísmo  e o Bem vence sempre, mas o Mal espreita a cada esquina. Chamam a Eisner o Orson Welles da banda desenhada, o que já diz quase tudo.


 
Vamos refrear a nossa faceta de aficionados do Spirit e ficar por aqui, mas a quem partilha o nosso gosto, temos a comunicar que o Spirit tem, finalmente, site na Internet.

Will Eisner (1917-2005)

Outro aspecto interessante da obra de Eisner são dois trabalhos dedicados ao tema do antissemitismo.
Eisner era judeu, esquecemos de o mencionar. Embora não seja necessário ser judeu para se repudiar o antissemitismo, imaginamos que este tema deve ter sido bastante presente na sua vida, até porque foi chamado às fileiras do Exército para combater o Nazismo.
Cá vai então: 


FAGIN THE JEW (2003) é o exame de Will Eisner sobre o personagem Fagin de 'Oliver Twist' de Charles Dickens. Baseado na sua própria pesquisa sobre a época e as edições originais de Oliver Twist, Eisner conta a história de Fagin e examina o preconceito, a pobreza e o antissemitismo que prevalecem na literatura clássica.
Eisner escreve: "Ao longo dos anos, Oliver Twist tornou-se um marco na literatura juvenil, e ajudou a perpetuar o estereótipo [judeu]".
Publicada pela Doubleday, esta reinvenção do romance clássico de 1837 é contada do ponto de vista de Fagin, permitindo a Eisner pintar um retrato pungente e refrescante de uma das personagens mais famosas e incompreendidas da Literatura.

 
 Disponível na Amazon.



O Complot (Norton, 2006) conta a história secreta dos 'Protocolos dos Sábios de Sião' e desvenda uma das fraudes mais perniciosas do século XX.
Os Protocolos dos Sábios de Sião são uma notória peça de propaganda antissemita criada e disseminada pela Polícia secreta da Rússia há 100 anos. 
A obra pretendia ser um projecto escrito por líderes judeus para dominar o mundo. Embora o Times de Londres tenha revelado em 1921 que o livro  era uma farsa, milhões de pessoas continuam a acreditar que a sua trama fictícia é verdadeira. Agora, uma nova geração, alimentada pelo antissemitismo e pelos muitos sites da Internet que espalham mensagens odiosas, adaptou o texto para atender às suas finalidades.
'O Complot - A História Secreta dos Protocolos dos Sábios de Sião' explica como e porque é que os Protocolos foram criados e apresenta um desfile de figuras históricas, do Czar Nicolau II a Henry Ford e Adolf Hilter. O Complot expõe a história retorcida dos Protocolos, dos russos do século XIX aos actuais membros da Ku Klux Klan e aos fundamentalistas islâmicos. Ao esclarecer a situação, Eisner esperava poder aumentar a consciência pública do antissemitismo em todo o mundo e chamar a atenção para as formas nefastas como os governos usam a propaganda para influenciar a opinião pública.



Eisner terminou esta obra 1 mês antes da sua morte
Disponível na Amazon.

- Este post fica arquivado na nossa modestíssima secção FILO-SEMITISMO,  que muito de vez em quando enriquecemos com alguns judeus e judiarias, não porque eles, os judeus, sejam melhores que as ouras pessoas, mas porque não são piores.
Também nos diverte imensamente furar os balõezinhos da legião de antissemitas que nos lêem religiosamente. Esperamos que entre eles haja muitos fãs do Spirit e que tenham ficado bastante aborrecidos por ele ter um papá judeu ;-)
A propósito:

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