sábado, 5 de janeiro de 2019

Não, Kalergi nunca quis uma futura raça "negro-eurasiana"! (2ª parte)

Conclusão do post anterior:

Não existe e nunca existiu um plano Kalergi (1ª parte)

 

Dentre as muitas teorias da conspiração que correm na Internet, uma delas é que a presente Islamização da Europa foi uma ideia do conde Richard Coudenhove-Kalergi (foto à esquerda) nascido no século 19. Como todos os caminhos da paranóia vão dar aos judeus, o senhor Kalergi é acusado de ter querido engendrar uma "nova raça humana", "negro-eurasiana", para habitar a Europa, de que "os judeus", "por serem mais inteligentes", seriam os "capatazes". 
Atribuem-lhe declarações nesse sentido, mas na verdade nunca as vimos nas suas obras. Falsas citações são um clássico de propaganda. E ainda que o senhor Kalergi tivesse tido tal ideia peregrina, que culpa teriam os judeus de um suposto delirante lhes ter atribuído tal ou tal papel?
Mas o que se pode esperar de nazis e outros psicopatas? Diversos artigos sobre esse suposto "Plano Kalergi" (que tem tanta consistência como os Protocolos dos Sábios do Sião, ou a teoria de David Icke de que os judeus são lagartos espaciais da Lua que vivem no centro da Terra), começam com as palavras "Richard Kalergi foi um mestiço ...", o que é logo um cartão de visita completo.
Para os paranóicos, a característica que define Richard Kalergi é que, apesar de ser filho de pai austríaco (de boa e pura raça ariana, portanto) transporta a mancha indelével de ser filho de mãe japonesa... De pouco vale os japoneses terem sido considerados "arianos honorários" e terem sido aliados dos nazis. O homem era "mestiço", e como tal, todas as malfeitorias lhe podem ser atribuídas.
O que é mais engraçado é que se fôssemos fazer um teste de ADN (pois eles não conhecem as raízes familiares além dos avós) a estes valentes "arianos" portugueses, espanhóis, brasileiros ou franceses, descobrir-se-ia que descendem directamente de muito mais "raças" do que o senhor Kalergi.
O Ricardo Araújo Pereira (por quem não temos qualquer simpatia política), disse que os nazis portugueses rapam o cabelo, porque se o deixassem crescer notava-se a carapinha. Já para não falar de neo-nazis portugueses de apelidos tipicamente judaicos, como por exemplo Machado. Os neo-nazis portugueses iriam todos para os fornos do seu amado Führer!
Fica aqui um sketch de antologia, em que um padre é acusado de ter mudado de sexo, por uma razão idêntica à que leva a que o senhor Kalergi seja acusado de ter planeado a islamização da Europa:


Não, Kalergi nunca quis uma futura raça "negro-eurasiana"!
 CHRISTINE TASIN, em RIPOSTE LAIQUE.

Na primeira parte desta série, lembrámos quem era Richard Coudenhove-Kalergi e de como a Europa que ele sonhou era significativamente diferente da que estamos a vivenciar.
Também lemos a introdução da tradutora do seu livro, um livro que foi usado em muitas ocasiões (incluindo por teóricos da conspiração e sites anti-semitas) para citações desonestas e mal-intencionados, com o intuito de fazer que as pessoas acreditem numa conspiração global para um projecto monstruoso de destruir a Humanidade.
Projecto que, obviamente, não se encaixa com o amante do Cristianismo, das Cruzadas, da herança Grega, que foi Kalergi (ver a primeira parte), amante de tudo o que é o espírito europeu e da grandeza da Europa que o faziam vibrar.
Pode-se certamente culpá-lo por ter sido idealista demais, por ter imaginado uma Europa no modelo da Suíça, mas não de ser o inimigo bastardo dos europeus e amigo do internacionalismo que alguns o acusam de ser.
Abaixo estão alguns trechos interessantes do seu livro Praktischer Idealismus, publicado em 1925, que ajudam a entender as passagens que circulam e são usadas contra Kalergi, imprimindo um significado oposto às suas intenções.
É um pouco longo, mas necessário para que não acreditem na minha palavra, mas que confirmem os leitores eles mesmos. A famosa passagem sobre a raça do futuro é uma previsão (e não um desejo) da evolução do mundo, da sociedade, do homem construindo um mundo sem limites, um mundo onde viajamos, um mundo onde as fronteiras são abolidas, onde povos, raças, etc. são misturados, uma descrição visionária, em 1925, do que vivemos menos de um século depois. Descrição ... e não um manual do usuário para alcançar um mundo que não corresponde aos valores e desejos de Kalergi, uma vez que os seus desejos são um ponto de equilíbrio entre os dois tipos humanos que ele identificou.

Em primeiro lugar, é necessário entender a diferença fundamental que ele fez entre os habitantes da cidade e os habitantes do campo. Esta análise é de incrível previsão e inteligência, e as conclusões que ele extrai são de uma actualidade chocante.
É claro que devemos lembrar que o livro foi escrito em 1925, quando a maioria dos europeus eram camponeses (e não neo-rurais vindos da cidade). Em suma, ele justapõe a nobreza de sangue e a nobreza de espírito, o camponês (“junker”) e o citadino (letrado), e mostra, em particular, como eles conseguiram enfrentar guerras, vitórias ou derrotas, e como só a aliança dos dois pode produzir um aristocrata consumado, aristocrata de espírito e vontade, que não é “junker” nem erudito.
O modelo do “junker” realizado é o cavalheiro representado pela Inglaterra, o do erudito é o boémio, representado pela França revolucionária. César era um cavalheiro, Sócrates boémio...
... "Aos alemães falta estilo, para se tornarem cavalheiros, e temperamento para se tornarem boêmios, e falta-lhes a graça e a flexibilidade para se tornarem ambos. O ser humano rústico é principalmente um produto da consanguinidade, o ser humano urbano é uma mestiçagem" ...
Em suma, Kalergi, no seu trabalho, não dá uma receita, não descreve a sociedade ideal à qual as elites globalizadas deveriam tender. Ele descreve dois grandes tipos humanos, presentes em toda a Europa. Os urbanos, "mestiços" (misturados, mas não misturas de duas cores diferentes) porque produtos da mistura de famílias, cidades, diferentes origens sociais, que, geração após geração se distinguem dos seus pais, até à degeneração... e os rústicos, que, não se misturando com outros que não entre eles mesmos, geração após geração, não inventaram nada, por medo de se tornarem diferentes dos seus pais, até à consanguinidade e à degeneração.
Pode-se discordar das análises de Kalergi, é claro, mas a honestidade intelectual impõe que ele não seja mal julgado. E ele é mal julgado, muitas vezes, para que se evite fazer perguntas pertinentes aos nossos líderes sobre a globalização, pois é simples e fácil encontrar um bode expiatório falecido há muito tempo ...

Terminamos com as duas últimas passagens do seu livro citadas abaixo e lançadas à fúria popular por pessoas desonestas ou com preguiça de ler o texto que as precede.

Richard Coudenhove-Kalergi continuou a sua comparação dos dois principais tipos de humanos para mostrar como e o que eles faziam. Isso não é um desejo, não é sua vontade, mas uma afirmação ligada ao desenvolvimento da cidade e, portanto, à multiplicidade do tipo urbano.
Este homem, este boémio, que se move, que muda, que atravessa, que se opõe ao camponês e, portanto, à consanguinidade, logicamente levará ao homem do futuro, formado por indivíduos todos diferentes uns dos outros, "originais", porque "raças e castas serão vítimas de ultrapassagens cada vez maiores de espaço, tempo e preconceitos". Assim, "a raça do futuro, negro-eurasiana, de aparência semelhante à do antigo Egipto, substituirá a multiplicidade de povos por uma multiplicidade de personalidades".
Neste livro, Kalergi descreve simplesmente o que lhe parece ser a marcha do mundo (que talento profético, quando sabemos que o seu livro foi escrito em 1925!) e o que acontecerá, sem ser defensor do curso de acontecimentos que prevê.
É por isso que ele opõe, na última passagem citada antes da conclusão, o Russo mestiço com uma alma rica e o Britânico insular, o humano de alto pedigree, o tipo mais completo. Se em geral ele se contenta em descrever, sem julgar, parece que este último paralelo atesta a sua nostalgia pelo desaparecimento anunciado do cavalheiro, não mestiçado ...


 Lembramos que o livro de Kalergi pode ser acessado em:
Quem quiser estudar seriamente deve ler o que ele escreveu e não as citações que lhe atribuem. É em Francês, não conhecemos tradução em Português.


































Conclusão

Mesmo que o trabalho fique interrompido por agora, convido os leitores a lerem atentamente todo o livro (hiperligação na primeira parte deste artigo), e a análise que Kalergi faz, por exemplo, do Paganismo e do Cristianismo, que é brilhante: "O Cristianismo quer transformar o predador humano num humano doméstico, o Paganismo quer recriar o humano em super-humano" ...
Fascinante e excitante. Para o caminho, podemos citar estas passagens: "A aristocracia feudal está em declínio, a aristocracia do espírito em formação. O tempo intermediário é chamado democrático, mas é realmente dominado pela pseudo-aristocracia do dinheiro”.
Ou ainda, "a democracia repousa na suposição optimista de que uma nobreza espiritual poderia ser reconhecida e eleita pela maioria popular" ... mas "a influência da nobreza do sangue escuro, cresce. Esse desenvolvimento e, portanto, o caos da vida moderna, só terminará se uma aristocracia espiritual se apropriar dos instrumentos de poder: pó, ouro, tinta de impressão e os usar para o bem da comunidade".
Profético e lúcido, Richard Coudenhove-Kalergi aponta os nossos limites, os riscos que corremos e dá pistas, soluções ... que têm um único objectivo: serem usadas para o bem da comunidade.

Queira apreciar essas linhas, que remontam a 1925:


Gostaria de acrescentar que em nenhum lugar há menção do Islão, dos migrantes ... assunto estranho ao mundo do autor em 1925 ... Mas eu não duvido por um momento que Kalergi, nostálgico dos cavaleiros da Idade Média e das Cruzadas, apaixonada pela cultura ... estaria connosco na luta que estamos a  travar.

Estou a preparar-me para escrever uma espécie de sequela para a reabilitação de Kalergi, para fazer o ponto da situação sobre as maquinações dos EUA durante mais de um século  e do papel desprezível de Jean Monnet na criação da Europa que sofremos. O excelente livro de Chevènement sobre o assunto, A Culpa do Sr. Monnet: A República e a Europa, também é excelente.


Christine Tasin é Presidente da Resistência Republicana e Professora Associada de Letras Clássicas.









A islamização da Europa está a ser realizada não pelo senhor Kalergi, que faleceu em 1972, mas pelos líderes europeus, que amam o Islão, e odeiam Israel e os judeus, fazendo de tudo para extinguir a ambos e a todos os cidadãos do Mundo Livre:

União Europeia lança "Eurislam" - o projecto de islamização da Europa


 Christine Tasin é uma valente resistente à islamização, que já foi até condenada por "blasfémia", leia-se por ter dito a VERDADE sobre o Islão:


  


"Um Vestido Novo Para Um Ódio Antigo" - Pilar Rahola

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